Posso fazer uma frase se quiseres. Mas é a metade do meu livro que segue:
Ele tem poderes para hipnotizar, fazer o que quiser com ela. Por esse motivo ela continua nua sentada num confortável sofá estilo romano forrado com veludo da cor carmim, completamente imóvel. Cabelos soltos, usando apenas um colar
de pérolas brancas que descem até seus seios, dando um toque singular ao seu pescoço. A visão da bela jovem ilumina o ambiente sombrio. Pessoas seminuas compõem o cenário em sua volta. Paralisada, continua com o olhar fixo no homem alto e sedutor, que a deixa em clima de contemplação, mas, imóvel e encolhida de medo.
Ele, por sua vez, atento a tudo, não desvia o olhar da jovem e, com o passar dos segundos, sente o desejo aumentar dentro de si. Uma vontade imensa de tocá-la. Sem hesitar, se aproxima. E de joelhos, segurando-a com firmeza e por alguns minutos, suga-lhe delicadamente seus seios, sem lhe causar dor. A virgem que a princípio se encontrava assustada ficou surpresa de estar gostando daquela situação. Ele beijou e alisou com as mãos aqueles seios jovens e macios, até sentir-se satisfeito. Os minutos pareceram horas de pura sedução para ambos. Então ele olha para a boca entreaberta dela e, fitando-a nos olhos, vai aos poucos se afastando.
Uma incompreensível sensação de insegurança toma conta do seu ser e, do meio da sala, à meia luz, surge uma mulher completamente nua que o abraça com força, colando seu corpo ao dele. Diante de seus olhos, a dança do sexo começa. Mordidas e gemidos multiplicam-se a cada segundo. Paralisada em tudo, ela observa sem poder sair do lugar. Então, o sexo é consumado e o constrangimento é visível na face da bela jovem. Só que era exatamente esse sentimento que ele queria despertar nela. Sente-se de certa forma realizado e, como se nada tivesse acontecido, apenas com um olhar, dispensa a parceira, veste suas roupas, deixando propositadamente a camisa aberta, mostrando seu peito másculo e belo aos olhos de quem desejasse olhar. Como se nada tivesse acontecido, aproxima-se, cobre o seu corpo com a capa, estende as mãos de encontro às dela e a conduz até as escadas em direção ao quarto. Antes mesmo de dar o primeiro passo em direção às escadas, ela tenta fugir. Todavia, seus pés parecem ter vida própria e vão aos poucos subindo, degrau por degrau, num ritmo contínuo. Assim como seus pés, seus olhos enxergavam, mas não viam nada além dos olhos dele que, como um ímã, os atraía. Ele a deixava cada vez mais constrangida, pois ela sabia o que ele tinha em mente. Por este motivo, subiu as escadas com o coração palpitando e com uma imensa vontade de chorar, até o momento que chegam diante da porta de madeira espessa e escura que por um encanto se abre quando ambos se aproximam. Através dos olhos dele, consegue compreender todas as palavras não ditas, porém claras naquele instante.
Ela entra, amedrontada. Ele em clima de pura sedução. Ele desvia o olhar; ela sai do transe e começa a observar a imponência e a beleza do quarto que a faz observar atenta cada detalhe ali presente. Paredes escuras, muitas flores vermelhas de um agradável aroma primaveril. Sobre a cama, havia um vestido de veludo longo e justo da cor do desejo. Ela o admira por alguns segundos e nem nota quando ele a deixa sozinha. Quando percebe sua ausência, sente-se de certa forma tranqüila. Respira aliviada, mesmo não sabendo como havia chegado naquele castelo.
O silêncio é quebrado quando começa a escutar os sons que vêem do banheiro e, conduzida pelo barulho das águas, mesmo com receio, caminha devagar em direção à banheira que recebe a água quente da torneira dourada. Não resiste e com todo cuidado adentra, sentindo o frio que habitava seu corpo saindo juntamentecom o medo que sentia até aquele momento. A água que massageia seu corpo e recompõem suas energias a faz sentir o aroma agradável e só então percebe a luz das velas iluminando o ambiente. Assim permanece nesse clima de contemplação até o momento em que aparece uma criada, vestida de preto, que a faz sair do banho, dizendo que está atrasada. Assustada pensa:
- Atrasada para quê?
A mulher a faz sair da água, e com uma toalha branca começa a secar o corpo da jovem e a conduz à cama, ajudando-a a vestir o belo vestido que parece ter sido confeccionado sob medida para seu corpo, deixando seus seios sensualmente à mostra. A criada ajeita-lhe os longos cabelos cacheados para cima, deixando apenas um cacho solto na altura dos ombros, mas antes de sair, pede para que coloque o colar e os brincos que estão em cima da cama e, então, descer até o salão de festas. Meio sem vontade, ruma em direção à cama e encontra um colar de brilhantes que adorna umimenso rubi em forma de coração. Coloca-o e parada em frente ao único espelho existente no quarto, admira aquela peça majestosa, possuidora de uma beleza jamais vista. Arrumada conforme lhe foi pedido, dirige-se à porta, mas hesita ao abri-la. Necessita saber por que está naquele lugar. Toma coragem e sai do quarto.
A maciez do tapete que lhe cobre os pés é cortada quando pisa a pedra fria. Sente também o frio que vem das paredes do imenso castelo e, conduzida pelo volume alto da música, desce os degraus da escada em direção ao salão de festas. Anda mais um pouco e observa a penumbra do ambiente, sentindo seu coração disparar, um aviso de que algo inimaginável está por acontecer.
Quando chega diante da porta, percebe que a música diminui e todos os olhares se voltam para ela. O contraste da cor de sua roupa desperta olhar de admiração e de inveja, pois todos, sem exceção, estão trajados de preto. Olha para o fundo daquele enorme salão e o vê sentado em um sofá redondo, rodeado de mulheres, fazendo moldura ao único exemplar masculino que ali estava. Quando a avistou, não hesitou em fazer um sinal com a cabeça para que ela se aproximasse.
Descalça, com os pés quase congelados, ela caminha na direção dele, dentro daquele ambiente fúnebre repleto de pessoas jamais vistas e sem entender a razão de sua presença naquela espécie de festa-funeral. Chega diante dele, trazendo consigo toda sua beleza angelical. Porém, seus olhos a condenam, pois transmitem todo o medo que sente naquele momento. Sente-se acuada. Então, tentando disfarçar tal sentimento, baixa a cabeça. Era inevitável, ela sabia, mas era a forma que havia encontrado para aquele momento sem saída. Imediatamente ele percebe que ela está com muito frio, pois seus lábios estão roxos e seu corpo não para de tremer. Com um gesto incompreendido pelos presentes, tira a capa de veludo preto que está vestindo e a coloca sobre seus ombros. Ela agradece apenas com um olhar, um olhar assustado, porém um olhar de agradecimento. Ele nem percebe que ao praticar essa gentileza estava despertando a atenção dos presentes. Mesmo assim, continua, afasta as mulheres ao seu redor e a faz sentar-se a seu lado.
Nesse exato instante, todos os olhares estão voltados para eles, mas para ele parecia que ali só havia ela e pensava que por sorte estava bem perto do seu corpo. Sentada, com os pés afastados do chão, após alguns minutos o frio começa a ser amenizado. Seus lábios voltam à cor natural. Nesse intervalo de tempo, assistem a diversos números eróticos, executados pelos próprios convidados. No centro da sala,cada movimento, cada gesto durante as danças, tudo lembra sexo. Ela estava disposta a sair daqueleambiente indesejável até a hora em que três bailarinas se aproximam, jogando suas vestes ao chão e chegando nuas até ele. Ela quis sair imediatamente daquele lugar, mas parecia estar presa ao sofá. Então fixou seus olhos nos dele como que suplicando para parar com tudo aquilo. Ele leu em seus olhos essa súplica, mas não atendeu ao seu pedido e as deixou tocarem em todo o seu corpo sem exceção, apenas para ver a sua reação. O ato praticado pelas três mulheres, não o excitava mais do que vê-la expressar tanto medo e constrangimento. Então, o que ela mais temia aconteceu. Cenas de sexo explícito entre os convidados eram praticadas diante daquelas paredes geladas e imóveis. Não havia pudor. Homens sedentos por sexo e mulheres se oferecendo sem limites. Ela sentiu que iria desmaiar diante daquela inacreditável situação. Ele observava a tudo e nada fazia para impedi-los.
Paralisada e inteiramente horrorizada, ainda tinha que se preocupar com o decote que deixava seus seios a vista de todos, quase saltando do vestido. Por vezes, escondia-os com as mãos, deixando-os livres apenas quando ele balançava a cabeça em sinal de negativa, ao que ela obedecia apenas por puro medo. Não suportando mais aquela constrangedora situação, esperou o momento oportuno e foi aos poucos se afastando, sem ser notada.
Longe dos olhos dele, subiu as escadas correndo, trancou a pesada porta com todas as trancas existentes e ofegante tirou o vestido e se dirigiu à banheira que continuava a esperá-la. Desta vez o ambiente exalava um perfume afrodisíaco. De olhos fechados, respirou fundo. Ao abri-los, sem ter tido tempo de se recompor do acontecido, levou um susto ao vê-lo dentro da banheira a sua espera. Ele agiu como se nada tivesse acontecido e repetiu o gesto de lhe oferecer as mãos, conduzindo-a para perto. Ela não queria entrar, mas suas mãos estavam presas às dele. A princípio, ficou imóvel, sentada em frente a ele. Como a água cobria metade dos seus seios, o colar molhado refletia um brilho que incomodava seus olhos. Ele a virou de costas e delicadamente passou as mãos em seu pescoço, tirando-o sem que ela percebesse. Beijou sua nuca, soltou seus cabelos e só então a colocou na posição inicial. Segurou seu rosto, beijou seus doces lábios, sem pressa e de forma carinhosa, quase lírica. Ela sentiu seu corpo estremecer, não de prazer, mas de medo. Calmamente, ao perceber a reação da jovem, pela primeira vez ele pronuncia uma frase, em tom firme, na intenção de deixá-la segura.
- Fica calma, não vou te morder.
Respirou aliviada. Aos poucos aquela sensação de estar gostando da companhia dele tomou conta de seu corpo. Ele sente as vibrações que emanam do corpo dela. Sente também que ambos estão em sintonia com as vibrações do ambiente. Mas possuído pelo desejo, recomeça o que havia iniciado na festa.
Ela se sente segura, mesmo sabendo que não estava, e se pergunta:
-Por que estou gostando desta situação? Por que este homem desperta em mim sentimento que não quero sentir? Por que não consigo sair correndo? E nos braços dele, seu corpo foi explorado, com gestos ousados, outros nem tanto, porém excitantes.Suspiros e gemidos quebram o silêncio que habita o ambiente até então. De olhos fechados sentiu que sua pureza daria passagem às delícias do sexo, porque seu corpo estava disposto a se entregar. Só que ele queria muito mais que puro sexo. Beijou-a lentamente da cabeça aos pés, contendo-se para não possuí-la. Olha-a bem dentro dos olhos e se afasta, deixando-a sem entender absolutamente nada.
Ainda não entendendo ao certo o que acabara de acontecer, ela permaneceu ali, paralisada por alguns minutos, tentando se refazer do acontecido. Sai da banheira, caminha em direção à cama, onde dorme um sono profundo, só acordando na manhã seguinte quando os primeiros raios de sol entraram pela janela, convidando-a a senti-los fora daquele castelo frio e sombrio.
Ao acordar, sente que sua presença ali é real e não um sonho como pensara. Possuída pela curiosidade abre o guarda-roupa, veste o único vestido existente no cabide. Fica surpresa com a cor branca e a sutil transparência do tecido, mas sente-se confortável com ele junto ao corpo. Abre as cortinas, segue em direção à sacada e avista um lindojardim, repleto de rosas rubras e aspira seu aroma misturado ao frescor da bela manhã! Corre em direção à porta e percebe que não há nada para calçar. Mesmo assim, tomando todo o cuidado necessário, desce as escadas. Depara-se com um silêncio ensurdecedor ao seu redor, mas tem coragem suficiente para prosseguir. Atenta a tudo, observa as telas sombrias expostas nas imensas paredes. Nelas há algo que a intriga: o toque de classe e o bom gosto dos temas ali expostos. Combinação de cores, molduras raras e o grande número de telas. Mas não deixa que sua a desviem de seu objetivo, sair dali o quanto antes.
Atravessa o salão principal, onde lembranças da noite passada lhe causam arrepios. Então apressa o passo e chega em frente à porta. Sente-se como uma fugitiva. Sem forças a empurra até se abri-la. Do lado de fora do castelo, os sentimentos de alívio e de liberdade pousam em seu pensamento. Respira fundo e começa então a desvendar cada centímetro da liberdade adquirida. Guiada pelo aroma das flores, depara-se com um magnífico jardim, esquecendo-se por instantes da sua meta principal – fugir. Descalça próximo das rosas, sente o perfume e contempla a sua beleza. Pisa na grama molhada e fria que a conduz à realidade. Escuta ao fundo a melodia das águas que corta o silêncio no ar. Despede-se do jardim com um olhar bucólico e segue na direção oposta ao castelo.
Durante sua trajetória, encontra uma pequena ponte de pedras, com estátuas em forma de pássaros grandes nas extremidades, indecifráveis, mas não a ponto de amedrontá-la. Tenta atravessá-la. Porém não consegue, pois parece possuir uma barreira invisível. Resolve então permanecer ali, contemplando a beleza do lugar, escutando o barulho das águas, sentindo o aroma das rosas, tudo enfim, distante do castelo, até o entardecer, quando começa a observar que o lugar até então sereno e belo se transforma em sombrio e assustador. Os pássaros na cabeceira da ponte pareciam observá-la. Até gritos ela ouve como se eles estivessem agonizando. O medo faz com que ela permaneça ali, parada, como se estivesse petrificada, até o anoitecer.
Como ela não consegue atravessar a ponte, a única saída é retornar ao castelo. Mas fica difícil encontrar o caminho de volta devido à escuridão que paira no céu. Estava perdida edesesperada. Sai correndo, roçando folhas e árvores que encontra pelo caminho. Acaba tropeçando. Ainda no chão, sente a dor intensa que irradia de seus pés, devido aos cortes profundos. A dor era muito intensa. Chorou baixinho para não chamar a atenção. Tentou mais de uma vez se levantar, mas a imensa dor não a deixava suportar o peso do corpo. De repente, sente seu corpo flutuando no ar e em meio às lágrimas percebe que está no colo dele. Instintivamente, entrelaça seus braços em volta do seu pescoço, encosta a cabeça em seu peito e assim é conduzida para dentro do castelo.
Ele a segura com firmeza, não demonstrando estar bravo. A prioridade naquele momento era socorrê-la o quanto antes. Conduziu-a até o quarto sem pronunciar sequer uma palavra, enquanto ela chorava baixinho. Ao chegar, deita-a na cama e como num desmaio ela adormece. Quando a criada adentra o quarto, ele dispensa seus serviços, pois pretende cuidar pessoalmente dela, pedindo-lhe apenas para acender à lareira, providenciar água e toalhas quentes, o que a criada acata de pronto.
Com o ambiente aquecido, tirou o vestido dela que se encontrava rasgado e sujo. A visão da bela jovem deitada e nua, parecendo uma deusa, o faz esquecer dos ferimentos por alguns segundos. Mas como não contemplar aquele belo exemplar feminino em sua frente?! Pensava ele, degustando com os olhos aquele corpo tão desejável. Enrola os pés da donzela para estancar o sangue e, virando-se para o criado mudo, pega a bacia de porcelana marfim, umedece a toalha branca de veludo e começa a lavar seu corpo inteiro, começando pelo seu delicado rosto, de traços belos e encantadores. A sensação que ele tem é a de um ritual extremamente sensual. Tanto que em algumas partes do corpo, ele, além da toalha, usa as mãos. Quando desenrola a toalha, entende a razão dela se encontrar desmaiada - havia cortes profundos nos pés e o sangue que jorrava era precioso demais para ser desperdiçado. Então, sem hesitar, depois de tirar a terra que havia em ambos, sugou-os com vontade. Durante este ato, a jovem desperta amedrontada e fica mais aflita quando nota que está coberta apenas com um lençol cinza. Lágrimas rolam de seus cristalinos olhos claros.
Ao perceber que a hóspede está consciente, ele suspende aquele ritual e, possuído pelo desejo, acalma-a sugando-lhe suas lágrimas, beijando ferozmente sua boca e passando a língua em seu pescoço. Ela o empurra. Ele insiste, descendo suas mãos em suas pernas. Ela novamente tenta afastá-lo. Ele tira a camisa e encaixa seu corpo sobre o dela. Sentindo o doce hálito que vem da sua boca, consegue enxergar através dos seus olhos todo o pavor que estava lhe causando. Nesse instante, ele a aperta com força e virilidade e, se afastando, fica de pé diante da cama, cobrindo-a com o lençol. Oferece suas mãos, ela não retribui o gesto, ele ruma em direção à banheira.
Ela permanece imobilizada à cama, até sua respiração voltar ao normal e não mais escutando ruídos, caminha com dificuldade. Quando entra no banheiro se assusta ao perceber que ele está sentado na banheira e que, pelas roupas espalhadas no chão, era óbvio que estava nu. Acende uma das velas, depois outra, até clarear o ambiente e se surpreende ao ver que ele adormeceu. Cuidadosamente aproxima-se, começa a observar aquele belo exemplar masculino que se encontra indefeso, pois foi nocauteado pelo sono. Como se sente suja e necessita mesmo de um banho, senta-se fora da banheira e começa a lavar seu rosto, tentando fazer o menor barulho possível para não acordá-lo. Fica intrigada, ao olhar seus pés: houve uma melhora significativa em ambos. Ela os coloca dentro da água quente a fim de suavizar as dores, mas não resiste a mergulhar o restante do corpo, tomando todo cuidado necessário para não fazer barulho. Entra, senta do lado contrário ao dele, olhando-o fixamente e percebendo que ele permanece imóvel. Um pouco mais aliviada, fecha e abre os olhos repetidamente até que o sono, em sinal de cansaço, faz com que ela adormeça. Nesse exato momento, ele abre os olhos e põe-se a observar seus belos traços. Sente que seu corpo começa a deslizar em direção ao fundo. Para não se afogar, ele se aproxima, segura-a depressa, retirando-a da água, a enrolando-a em uma toalha e a conduz à cama.
A lareira, continua acessa, foi uma das ordens que ele deu aos criados – deixar o quarto sempre aquecido. Depois de secá-la, veste-a com um roupão preto de chifon, realçando ainda mais as curvas do seu corpo. Desta vez, não a toca, apesar do forte desejo de possuí-la, e se questiona:
-Por que não?Ela está hipnotizada, posso fazer o que eu quiser...
Para que tais pensamentos não continuassem a rodear sua cabeça, cobre-a com um cobertor preto de pele de coelho e fica sentado na cadeira ao lado da cama até ela acordar. Permanece ali por horas, guardando seu sono.
Logo ao despertar, ela o questiona:
-Quem me vestiu?
-Eu a vesti.
-Então...
Ele não a deixa terminar e fitando seus olhos a fim de deixá-la ainda mais sem ação, diz:
-Então, passei um bom tempo olhando teu belo corpo.
-O que queres comigo?
Em tom firme, sabedor dos seus desejos, continua:
-Tudo.
-Mas por que sinto que chegamos até o final?
-Eu quis que tu ficasses com essa sensação para saberes o que estás perdendo. E te digo mais, nós teremos muitos momentos juntos, pertenceremos um ao outro, mas somente quando tu desejares essa aproximação dos nossos corpos.
-E como tu sabes que irei querer? Como podes afirmar?
-Eu tenho certeza deste fato.
Nesse momento, o diálogo é interrompido pela criada trazendo o jantar. Os dois continuam trocando olhares. Ele pede para que a sirva na cama, devido os ferimentos em seus pés. Fraca e faminta, ela não rejeita a alimentação. Porém seu estômago não aceita mais que algumas colheradas.
-Coma mais senhorita, fiz uma sopa reforçada – diz a criada preocupada.
-Não consigo, estou com sono.
Sentindo pena da jovem, a criada recolhe o prato que mal foi mexido e sai a pedido dele. Depois de alguns minutos de absoluto silêncio, como se pedisse para ele sair do quarto, ela diz:
-O sono insiste em fechar meus olhos.
-Então, durma.
-Tenho medo.
-Medo de quê?
-Medo do que tu possas fazer comigo.
-Não precisas ter medo, eu costumo cumprir para com a minha palavra.
-Tu sairás, então?
-Não. Ficarei aqui protegendo o teu sono.
-Mas...
-Eu já disse, não irei tocá-la a menos que queira. E um longo silêncio repousou no ambiente.
Vencida pelo sono e pelo cansaço, ela adormece sentada. Ele se aproxima, acomoda-a na cama e descobre seus pés. Esfrega neles uma erva com cheiro de hortelã juntamente com uma pasta de babosa até seus pés ficarem verdes, cobrindo-os novamente, com a certeza que iriam melhorar. Ao sair, recomenda que a criada coloque mais lenha na lareira para que o fogo perdure até o amanhecer.
Com o quarto aquecido, os ferimentos medicados e a fraqueza ainda em seu corpo, ela só acorda no dia seguinte quando a criada entra no quarto trazendo o almoço. Acordada para o novo dia e disposta, pois a noite havia lhe recuperado as energias, começa a questionar a criada:
-O que estou fazendo aqui neste castelo? Por que sou prisioneira? Quem é aquele homem? O que ele quer de mim? Que festas estranhas são essas?
A criada apenas escuta suas indagações, mas não responde a nenhuma delas.
-Estou com muito medo.
E chora baixinho, cabisbaixa, diante da bandeja de café repleta de sucos, pães, presunto, queijo e geléias. Leva a comida à boca. Sem forças para se levantar, mas sentindo a melhora em seus pés, agradece a refeição e ainda deitada olha para o teto. Fica relembrando tudo o que havia acontecido até adormecer.
As primeiras estrelas surgem no céu quando ela desperta novamente e o estado de paz que até então sentia é substituído pela insegurança ao vê-lo de pé junto à cama.
-Estás mais forte agora? Foi logo dizendo afastando o cobertor e se ajoelhando aos seus pés. As indagações ainda eram suas prioridades no momento. Não notou que ao se ajoelhar seu gesto era de preocupação com seus ferimentos. Foi logo perguntando:
-O que estou fazendo aqui?
-Desejei a tua chegada. Ele responde calmamente.
-Por que sou tua prisioneira?
-Tu não és minha prisioneira.
-Quem tu és?
-Sou dono deste castelo.
-O que queres de mim?
-Já te respondi a essa pergunta. Quero tudo!
Cortando as perguntas, ele diz:
-Depois do jantar, poderás continuar dormindo.
E sai.
Esta rotina perdurou até o sexto dia quando a lua trazia um esplêndido luar, era nessa hora que ele aparecia e, como em todas as outras noites, essa não foi diferente, só que ele não a encontra na cama. Aflito percebe que a janela está aberta e que a cortina dança conforme a melodia do vento, então, pensamentos ruins trazem arrependimentos nesse instante e quase correndo, ruma em direção à sacada.
Suspira aliviado e feliz ao vê-la admirando a lua. O vento que levanta seu vestido e despenteia seus cabelos juntamente com a claridade que vem do céu, é uma inesquecível visão!Jamais seus olhos haviam registrado tamanha beleza, diante de tal cena. Não se contendo de tanta felicidade, se aproxima.
Ela olha para traz assustada e com voz estremecida diz:
-Quero te agradecer por teres cuidado de meus ferimentos e cuidado de mim. Pensei que nunca mais iria voltar a andar como antes, pensei até que iria perdê-los.
-Mas não tiveste medo?
Ela baixa os olhos e confessa:
-Tive muito medo.
-E ainda estás com medo?
-Sim. Não entendo a razão. Tu podes me explicar?
-Quero que continues com medo de mim.
-Não estou entendendo...
-Não descansarei enquanto não te possuir.
Atordoada, sem saber o que fazer. Abre os braços e grita:
-Então me tenha...tira-me dessa tortura.
Assim como a lua, ela também pensou que aquele homem havia mudado, mas ambas se enganaram redondamente.
Neste momento volta o algoz que estava adormecido nele e diz:
-Deste jeito, eu não quero. Noto que estás recuperada, então as 23h30min horas, vista aquele vestido vermelho e desça ao salão de festas.
Chorando ela responde:
-Eu não irei.
Em tom autoritário ele diz:
- Tu estás me desafiando? Tu ainda não viste o que é tortura. E puxando-a pelo braço, a conduz a parte negra do castelo. Em ritmo acelerado mal conseguindo acompanhá-lo.
- Estás machucando o meu braço. Ela diz quase sendo arrastada.
- Eu não quero te machucar, mas vejo que será necessário. E não estou falando do braço...
Durante todo o caminho, apesar da dor que sentia, ela se mantinha firme em seu propósito: não ceder aos seus desejos. O caminho era longo. Muitas escadas foram descidas. Ele percebeu que a força da sua mão, deixava marcas em seu braço, mesmo assim a ira que sentia, não o fez aliviar a força, e apertava-o ainda mais, quando via em seus olhos que ela realmente não o queria. Ser rejeitado era um sentimento que ele jamais havia sentido. Usar a força, era a sua opção no momento e de tanto usá-la, ela nem sentia mais dor, seu braço estava dormente quando chegam num imenso corredor frio, escuro e estreito. Algumas portas, durante o trajeto ela pode observar. Fizeram à primeira curva. Ele desacelerou os passos. Ela olhou para os seus olhos, quando pararam diante da última porta, no fim do corredor. Sentiu medo quando ela se abre sozinha. Olhando para baixo, avista uma claridade mínima que vinha da única tocha acessa, presa a parede. Começam a descer os quarenta e três graus em direção ao subsolo. O frio batendo em seu rosto aumentava à medida que descia. Algumas tochas se acendem, dando a verdadeira dimensão do lugar. Sentiu que ele realmente não estava brincando quando, ao descer o último degrau avistou correntes e chicotes presos a parede.
Ele solta o seu braço, fita os seus olhos e com voz firme diz:
- Agora saberás o que é tortura.
- Estou com frio.
- Tira a roupa.
- Mas está muito frio aqui.
- Irás me desobedecer outra vez?
Não precisou pedir novamente. Diante de seus olhos, ela se despiu o mais rápido que pode. Nua e sentindo humilhada, não imaginava o que estava ainda por vir. O frio congelado o seu corpo e o seu queixo não parava de bater. Então, começa a se vestir. Ele imediatamente grita:
- Quem mandou se vestir?
Ela se assusta e solta a roupa ao chão. Neste instante a toma pelas mãos e prende os seus pulsos na corrente grossa que cai do teto. Braços levantados e imobilizados, corpo livre para ser tocado, ela não se deixa abater e pergunta:
- Irás me chicotear?
- Bem que tu merecias, mas o teu castigo será pior. Ele fica em sua frente, fita os seus olhos e começa a passar as suas mãos em seu corpo. Ela chuta as pernas dele. Ele se afasta, tira as correntes e diz:
- Deita na cama.
- Qual cama?
- Aquela ali. Diz ele olhando para o lado. Ela aproveita este instante de distração e não pensa duas vezes: sobe as escadas correndo. Todavia, a porta se fecha ao se aproximar. Ela procura a maçaneta, em vão, pois não há. Ela chora. Ele em tom autoritário diz:
- Tu só sairás daqui quando eu quiser.
Nuvens negras pairam em sua cabeça. Aflita e inconsolada, por alguns minutos reluta em voltar. Enxuga as lágrimas, levanta a cabeça, desce as escadas em direção a cama e se deita. Ele amarra os seus braços e pés às grades da cama e pergunta:
- Estás com frio?
Ela não responde e o olha com desprezo.
Ele tira a sua capa, depois o restante da roupa e deita nu, sobre o corpo dela. Sussurra ao seu ouvido maliciosamente:
- O frio está passando?
Ela vira o rosto para o lado contrário ao dele.
Ele expressa raiva ao dizer:
- Mesmo diante da situação, tu ainda me desafias?
Ela tenta inutilmente se soltar. Ele entrelaça os seus braços sob o seu corpo, trazendo para perto dele alguns centímetros acima da cama. Ela sente o seu pescoço, os seus seios e as suas pernas serem sugada. Então grita:
- Não. Eu não quero.
- Mas eu quero, ele diz passando os dedos pelo seu sexo.
- Não, por favor! Eu te imploro. Ela diz chorando.
As lágrimas que rolam em seu rosto o deixam sem saber ao certo o que fazer. Irritado ele ainda tenta prosseguir. Ela tenta se rolar de um lado para o outro. Ele a solta e diz:
- Tenho que receber os meus convidados. Mais tarde eu volto.
Joga as roupas dela em cima da cama. Veste as suas roupas, sempre com o olhar na sua direção, e sobe as escadas. A porta se abre para a sua passagem e se fecha logo após.
No caminho encontra a criada e dá a seguinte ordem:
- Leva ao calabouço um cobertor e comida. Depois da festa eu descerei para ver se ela está disposta a cooperar.
- Em que masmorra ela está?
- O meu pensamento te guiará. Não se preocupe com a porta, ela se abrirá e fechará na medida em que se aproximares. Peça ao mordomo para te acompanhar.
Assim a criada fez, levou um cobertor de pele de coelho, pois sabia o frio que habitava naqueles porões. Pediu ajuda ao mordomo e juntos levaram comida e agasalho o suficiente para que ela não se sentisse tão desprotegida.
Ao ver a criada, ela correu ao seu encontro.
- A que foi que a senhorita fez para levantar a ira dele?
- Disse que não iria à festa.
- E a senhorita quer ficar aqui?
- Não...
- Então, acho melhor se comportar e usar da sua inteligência.
Antes de sair à criada pede para que ela coma e se aqueça debaixo do cobertor.
- A senhora tem que ir agora?
- Sim.
- Então irei junto. Diz ela ao se levantar.
- Acho melhor permaneceres aqui. Senão, além da senhorita, eu também serei castigada.
Para proteger a criada, ela desistiu da fuga. Permanece naquele lugar, sombrio e frio, onde o calor do sol não habitava e a luz dos dias jamais foi convidada a entrar. Sentada a cama, acuada, observa tudo ao seu redor. As correntes faziam-na visitar a negritude da sua imaginação. Nela, poderia escutar os gritos de dor de corpos chicoteados. O medo a faz permanecer acordada. Todavia sente os seus olhos pesarem com os passar dos intermináveis segundos. Mas é vencida pelo cansaço. Só acordando quando escuta o ranger da porta se abrindo. Ela pensa em ceder os seus encantos, a fim de acabar de fez com tudo aquilo. Ele desce os degraus rapidamente, chegando diante dela, como num piscar de olhos. Não foi preciso perguntar nada. Sente que o desejo ainda estava presente em seu olhar. Lembra do conselho da criada. Mas a usa recusa é maior. Deixa estampado em seu rosto, o desprezo que sente daquele homem. O seu corpo, por sua vez, obedece ao comando seu olhar. Paralisada assisti os seus olhos percorrerem o seu corpo que, estremece diante dele. Ele se aproxima e sente o hálito dela através de um quase beijo. O coração da jovem dispara. Ele tira a capa e se posiciona atrás de suas costas e sussurra ao seu ouvido:
- Tira o vestido.
Completamente hipnotizada, ela começa a se despir sentindo a respiração dele, aquecer a sua nuca.
Novamente um comando:
- Tira tudo...
Ela respira fundo e obedece.
Ele ainda em suas costas, beija o seu pescoço e senti através das suas mãos o corpo dela se arrepiar a cada toque.
- É assim que eu gosto e quero te ver e sentir: obediente. Ele informa tocando o corpo da jovem. Posicionado enfrente a ela, vê e sente todo o desprezo estampado em seu na expressão do seu rosto.
Furioso ele diz:
- Pensei que a tua permanência nesta masmorra mudaria os teus atos. Vejo que terei que te punir de verdade.
Ele amarra os seus braços e as suas pernas em correntes pressas à parede. Fixa o olhar em seu corpo, possuindo-a com os olhos. Como um animal faminto, devora o corpo da jovem com a boca. Ela por sua vez, permanece como uma presa morta, imóvel e sem reação. Um verdadeiro ritual de tortura. Tê-la naquela situação, o deixava excitado. Impor a sua autoridade era necessário no momento. Mas não menos excitante do que tê-la ali, nua e sujeita a tudo. Pensa que ao humilhá-la, romperia as barreiras da sua resistência. Ledo engano! Comprova a firmeza de propósito da jovem, ao tirá-la do transe, que sem pensar nas conseqüências reage dizendo:
- Isto que está fazendo comigo é covardia. Não é um ato digno de um homem.
Após despejar a sua revolta, pensou que iria ser chicoteada por confessar a sua repulsa. Ficou esperando a sua reação. Os seus olhos a denunciavam, dizendo que se encontrava amedrontada. Todavia, indignada.
Ele foi pego de surpresa. Não sabia como lidar com ela. Ficou por alguns segundos pensando o que ela tinha de diferente das demais jovens, já que o seu charme, o seu poder de sedução e o seu título de nobreza, sempre foram disputados pelas mais belas mulheres daquele reino e fora dele. Por que justo ela o deixava sem saber como agir? Ela seria apenas mais uma, dentre tantas que já tivera, então por que a sua recusa mexia com ele? Sentia-se atraído, isso não podia negar. Não só pela beleza que possuía, mas por sua determinação quanto a recusar os toques de suas mãos em seu corpo.
Ao provar desse novo sentimento que mexia com as suas estruturas, aliado a raiva que sentia no momento, proferiu as seguintes palavras:
- Vou te mostrar o que é covardia.
Diante dela começa a se despir. Tochas se ascendem, clareando os dois corpos. Nu, ele entrelaça os braços em sua cintura e encosta seu corpo ao dela. Beija sua boca. Ela serra os lábios e vira a cabeça em sinal de negativa. Ele segura o seu rosto com as duas mãos e tenta roubar-lhe um beijo. Ela repete o ato. Ele diz:
- Então não queres me beijar?
Ela deixa claro em seu olhar que não o deseja.
Maliciosamente ele diz:
- Vamos ver se me beijas agora.
E novamente a beija só que desta vez, encosta umas das mãos entre as suas pernas.
Quando o seu sexo é tocado, ela retribui o beijo. Encontrando assim o seu ponto fraco.
Ele se afasta e sorri. Ela diz:
- É fácil se aproveitar de mim, estou amarrada e impossibilitada de agir conforme meus desejos. E acrescenta:
- Tu não és homem.
Neste exato momento o sorriso se desfez, e sua testa franziu.
- Estás enganada. Sou homem sim e irei te mostrar. Ele responde, soltando as correntes que a prendiam.
Ele se aproxima. Ela dá um passo atrás. Ele se aproxima novamente. Ela o encara e não se move. Ele a toma nos braços e força um beijo. Ela tenta empurrá-lo. Uma batalha é travada entre os dois. Quanto mais ela tenta fugir, mais ele a deseja. Tornando a caçada interessante e excitante! Assim ele a visualiza: uma presa em fuga. Ela por sua vez, consegue enxergar o caçador implacável que residia naquele corpo. Ele a solta e tenta se aproximar. Ela dá um passo atrás, não percebendo que fazia parte do jogo dele, fazê-la agir assim, pois a cada passo para trás, em sinal de rejeição, vai aos poucos rumando de encontro à cama. Todavia sem nenhuma intenção de se aproximar da mesma, pois sabia que ali facilitaria os toques dele em seu corpo. Inútil tal preocupação, percebe quando é empurrada, caindo em cima dela. Sente-se perdida. Mas não vencida. Outra batalha de braços e mãos é travada ali, entre o colchão e as paredes frias daquela masmorra. Sente calor, devido à força que precisa fazer para tentar fugir de seus braços, assim como a perca de suas forças, diante de tanto esforço. Restava apelar para as palavras e não pensou duas vezes dizendo:
- Não, por favor, não!
Ele por alguns minutos ainda, permanece em cima de seu corpo, sugando-o e alisando-o por inteiro, fingindo não escutá-la.
- Não. Insiste chorando.
Ele faz uma pausa, a solta e diz:
- És presa fácil para mim. Não adianta fugires. A terei a hora que eu quiser. Mas antes, brincarei um pouco. Estou gostando dessa situação. Ao pronunciar essas palavras, volta a amarrá-la na cama, dizendo:
- Vou te deixar aqui para pensares mais um pouco. Voltarei todos os dias e terás o mesmo tratamento até que decidas se entregar.
- Morrerei de frio, nua e amarrada.
- Não morrerás. Ele diz se vestindo. Ao subir as escadas, todas as tochas se ascendem, aquecendo o lugar, amenizando o frio de seu cativeiro.
Chorar era a única solução no momento. Assim ela ficou até o dia seguinte, entre choro, fome e medo.
Chega à noite lá fora. Mas, a escuridão no subsolo não a deixa decifrar o caminhar do dia. A porta se abre. Ela sabe o que sofrerá por horas, diante dele. Ele desce os quarenta e três graus, vestindo a sua capa preta, como de costume. A cada passo em sua direção, sente o seu corpo treme de medo. Ele desce apressado, chegando ao chão e tem a certeza que ela permanecera ali, como da última vez, que a vira. Nua, acorrentada na cama. Diante dela, a faz levantar o rosto e desliza suas mãos em seu corpo. Ela tenta se desvencilhar, mas as correntes machucam os seus pulsos e pés. Ela implora apenas com um fio de voz:
- Não, por favor, não!
Ao tocá-la, sente que o seu corpo está quase congelado, e a solta, cobrindo-a com o cobertor. Fica observando-a. Aquele olhar amedrontado modifica os seus planos. Acuada e desprotegida, em cima daquela cama, era algo que não lhe causava prazer. Gostava de presa difícil e não tão fácil como aquela no momento. Entretanto se aproximou beijou os seus lábios que se encontravam gélidos, como o desejo que a mesma sentia por ele. Ele sentiu que ela havia retribuído, devido apenas as circunstâncias. Mas continuou, descendo os lábios em seu pescoço. Ela treme. Ele tenta tocar o seu sexo. Ela fecha as pernas trancando a sua mão entre as suas coxas. Ele não a deixa perceber, mas pela primeira vez havia gostado da sua reação. Um olhar de incompreensão nasceu de seus olhos cansados, ao vê-lo parado observando-a, com uma ligeira expressão de satisfação. Surpreende-se quando ele a liberta das correntes e a pega no colo, enrolando-a ao cobertor. Sobe as escadas lentamente.
Estar em seus braços, sentiu-se protegida, contrariava toda a repulsa vivenciada naqueles últimos dias. Mas era exatamente assim que ela se sentia - protegida. O calor do corpo dele fazia uma barreira contra a corrente de ar gelado, que circulava no ambiente. O ritmo descompassado do coração da jovem anunciava esperança de melhores momentos. Quanto ao dele, pedia para se apressar. Caso contrário, a perderia para sempre. Assim ambos subiram até o quarto dela. Uma promessa de mudança pairava no ar, como se a esperar um milagre nos instantes seguintes. Fragilizada desmaia em seus braços. Ele fica desesperado. Tenta reanimá-la colocando a jovem dentro da banheira, onde a temperatura da água a traria de volta. A sua ajuda era crucial diante de tal circunstância. Sente medo apenas em pensar em perdê-la para morte. Seria uma situação patética. Pensava ele. Entra dentro da banheira segurando-a como se fosse um recém nascido: amparando-a para não se afogar, já que se encontrava inconsciente. Foi rápido a permanecia na água. A intenção era apenas de normalizar a temperatura de seu corpo, não deixando descer mais do que se encontrava. Secou-a rapidamente, levando-a a cama e se posicionando ao seu lado, embaixo do cobertor. A criada adentra o quarto. Imediatamente pede para que seja providenciada uma sopa e uma xícara de chocolate bem quente. Durante a espera, ela ecoa no ar palavras sem sentido. Entra em estado de puro delírio. Ele usa de seus poderes e a coloca em transe, a fim de ganhar tempo até a criada voltar. Os segundos pareciam horas, horas de puro tormento. Quando a criada retorna com a bandeja as mãos, ele respira um pouco aliviado. Todas as janelas e portas são fechadas pela mesma, acrescentando lenha à lareira, enquanto ele a reanima dando-lhe comida a boca. Uma tarefa difícil, já que se encontrava desacordada. Ele teve que testar a sua força de vontade, aliada a paciência. A principio, apenas encostando o líquido em seus lábios. Alimentando-a durante os momentos de delírios, quando alternadamente abria a boca. Era um homem terminado, por esse motivo, conseguiu reverter àquela preocupante situação. Aos poucos a palidez que perdurava na face da jovem, dava passagem à cor natural de sua pele.
A criada preocupada pergunta:
- O senhor deseja que eu faça algo mais?
- No momento não. Quero apenas que não saia deste andar. Escolha um dos quartos de hóspedes, o mais perto deste para, caso eu precise de sua ajuda, posso vir o mais rápido possível.
- Assim será. E sai.
Acordada e ainda sem forças para sair da cama, o questiona:
- O que houve?
- O frio foi implacável contigo. Tive que te tirar da masmorra.
Ela olha para o alto, tenta resgatar os últimos momentos da sua permanência naquele buraco, solitário e assustador. Não consegue resgatar tudo, apenas ligeiros flasch de lucidez.
- Como cheguei até aqui?
- Não lembras? Eu te trouxe no colo.
Ela fez uma pausa prolongada e informou:
- Estou com sonho.
- Antes quero que tome o conteúdo desta xícara: é chocolate quente.
Assim ela fez. Necessitava melhorar. Adormeceu olhando para o rosto dele, deitada e devidamente aquecida, tentando descobrir o que tinha em mente. Ele vigiou o seu sono até o amanhecer. Deixou instruções à criada, não só para alimentá-la, mas também para fazê-la melhorar o quanto antes, já que a incluía em seus planos para os próximos dias.
- O que houve comigo, senhora? Diz ela um pouco melhor.
- Não sei ao certo, mas a senhorita quase morreu e, morreria se ele não agisse rápido.
- Eu preferia morrer...diz tentado se levantar.
- Não diga isso. Trate de ficar forte e não desobedeça mais a nenhuma ordem dele.
Assim se passaram alguns dias entre os cuidados da criada, e as visitas dele à noite quando a mesma dormia.
Uma nova manhã surge! Sentindo-se forte o suficiente para se levantar, caminha em direção a janela, cantarolando. Sequer imaginava que ele a observava junto a porta.
Noto que está recuperada! Quero que às 23h30min, vista aquele vestido vermelho e desça ao salão de festas.
Ela se vira, cessa o canto e responde:
-Eu não irei.
-Se não desceres, eu venho te buscar.
Ele se afasta e a deixa chorando sozinha na sacada. Desconsolada, olhando para o alto como a pedir ajuda da lua, ela se senta no chão até a chegada da criada com o jantar.
-Eu não quero nada, pronuncia com os olhos inchados de tanto chorar.
-Acho melhor a senhorita se alimentar.
-Para quê? Eu quero sair daqui...
-Venha, tome um banho para acalmar seu espírito. Pare de chorar, relaxe e jante para ficar forte. Deixarei o jantar junto à lareira para que não esfrie.
-Não, diga-me onde é a cozinha que eu descerei para jantar com a senhora.
-Isto não é possível senhorita.
-O que é impossível?
-Jantar com a senhorita. Mas se preferir jantar na cozinha, dentro de meia hora virei buscá-la.
-Eu quero sim. Estou cansada desse quarto e de ficar sozinha.
-Então, esteja pronta dentro de meia hora, pois a cozinha fica longe.
-Estarei esperando a senhora, pode levar o jantar.
Durante o banho ela tenta imaginar uma maneira de fugir do castelo. E pensa: Talvez fazendo amizade com a criada, ela poderá me mostrar a saída. E ficou pensando, sem se importar com o tempo, até quando a criada retorna para buscá-la.
-A senhorita está pronta? Falou a criada com a toalha na mão.
-Eu já irei sair. Agora estou com fome.
-É só o tempo de chegarmos à cozinha, pois a comida está no fogão.
-Então vamos.
A escada de acesso à cozinha era do lado oposto ao do salão de festas. A criada trouxe dois castiçais que comportavam quatro velas acessas cada. Porém, nos corredores a luz parecia não iluminar o ambiente. Então, para tentar melhorar a luminosidade dos corredores, ela pediu-lhe para segurar um deles.
-A senhorita tem certeza de que quer me ajudar?
-Sim, por que não haveria de querer?
-É que esta sua atitude é nova para mim!
-Penso que devemos ajudar as pessoas sempre que estiver ao nosso alcance.
A criada sorri e, pela primeira vez, não sente o tempo passar na trajetória dos cômodos até a cozinha.
-Chegamos senhorita, pode entrar.
Ela fica parada por um instante diante daquele imenso cômodo que, guardava em seu interior móveis rústicos com bancos e cadeiras entalhadas com um desenho desconhecido para ela.
-Entre senhorita!Já irei servir o jantar.
Aproximou-se vagarosamente, mas atenta a todos os detalhes exibidos naqueles móveis rústicos e ao mesmo tempo majestosos.
Não se conteve. Possuída pela curiosidade, sentou-se e foi logo perguntando:
-Observei que este desenho está entalhado em todos os móveis...Que figura é esta?
-É o brasão da família de Lucas.
-Um brasão?!
-Sim.
-Mas de qual família?
A criada abaixa a cabeça e diz:
-Agora tenho que sair.
-Não. Fique aqui comigo.
-Não tenha medo, tenho que sair.
-Mas não sei o caminho de volta...
Olhando para a porta ela entende a razão da criada ter que sair apressadamente.
-Eu a levarei, diz ele entrando na cozinha. Está com fome?
-Muita.
-É bom mesmo que se alimente, porque ficaremos na festa até o amanhecer.
-Eu não quero ir à festa.
-Eu quero que estejas na festa comigo e, como eu havia dito antes, se não fores, eu irei te buscar. Pronuncia essa frase sentando-se enfrente a ela.
-Vais ficar aí me olhando comer?
-Estou observando o movimento dos teus lábios.
Ela continua a refeição com aquela presença a lhe tirar a liberdade dos movimentos. Irritada pergunta:
-E o que há de tão interessante no movimento deles? Eu estou apenas comendo.
-Há muito mais do que pensas...
Então ela termina rapidamente a refeição.
-Vamos.
-Já terminaste?
-Sim.
Quando a criada saiu levou consigo um dos castiçais, tendo restado apenas um que ele ao se levantar segurou dizendo:
-Então vamos.
Juntos, lado a lado, retornam pelos caminhos escuros do castelo. A princípio ela fica distante dele, mas durante o percurso, quando surgiu o primeiro corredor, aproxima-se ligeiramente, pois era escuro demais e o medo lhe causava arrepios. Nesse instante o aroma de seus cabelos invadiu o olfato dele, que quase agradeceu ao vento pelo prazer que lhe estava causando através daquele aroma suave e doce. Movido apenas pelo momento e esquecendo-se da sua postura de carrasco, perguntou:
-Qual o teu nome?
Ela, julgando-se no direito de não responder, devolve outra pergunta:
-Por que queres saber?
Um silêncio inquietante pairou sobre os dois até o momento em que chegam enfrente a porta do quarto dela, interrompido quando ele ordena:
-Estou te esperando na festa.
-O que irei fazer lá?
-Ficar ao meu lado.
-Não quero. Diz quase gritando
-Eu quero. E se afasta sem olhar para trás. Porém, se olhasse, vê-la-ia diante da porta, triste e desanimada. Minutos depois, resolve entrar e se arruma, pois sabia que seria impossível não estar presente à festa, pois seu querer era inferior ao dele.
Colocou o vestido, o colar e os brincos, escutou o barulho dos convidados chegando e o som da música alta. Cansada, encostou-se na cama e adormeceu. Todavia, nem teve tempo para sair do castelo em sonhos, pois minutos depois a criada veio buscá-la.
-Venha senhorita, ele a espera...
* Foto da capa do livro. Tela da escritora e amiga Dalva Agne Lynch.